Ao
comentar o texto relativo a Álvaro Cunhal, ocorreu-me citar uns
quantos vultos do século XX português que com ele ombrearam, e
entre estes citei Agostinho da Silva. Recordo, como muitos outros
naturalmente, as suas intervenções nas televisões nos seus últimos
anos de vida. Mas fiquei abismado quando, por altura da sua morte, li
um pouco mais da vida dele. Nem fazia ideia daquilo que ele tinha
feito durante tantos anos por esse mundo fora, em especial no Brasil.
Não imaginava o que o País tinha perdido por o salazarismo
retrógrado o ter expulsado de Portugal. Por isso, decidi resumir
um pouco, mesmo só um pouco, da sua biografia. Hoje, quando aumenta
o número de “cérebros” que, todos os dias, embora por outras
razões, saem de Portugal, trazer aqui Agostinho da Silva é também
uma forma de dizer … que é preciso dizer BASTA a esta sangria
empobrecedora …
Agostinho
da Silva nasceu no Porto em 1906, e em 1924 conclui o Curso Geral
dosLiceus com 20 valores. Quatro anos depois conclui o Curso de
Filologia Clássica, também com 20 valores!...Começa a colaborar na
Revista Seara Nova. Casa-se em 1930, e parte para Paris, com uma
bolsa de estudos para a Sorbonne. Regressado a Portugal, dá aulas no
Liceu de Aveiro, e em 1935 é aprovado em concurso público para ir
leccionar em Moçambique. Recusa-se a assinar a “Declaração de
Fidelidade ao Estado Novo” – a tal que Cavaco assinou! – e é
demitido do ensino público…Vai para Madrid, regressa a Portugal
e, após a publicação de O Cristianismo, de uma carta ao Cardeal
Cerejeira e de algumas palestras, é preso, detido no Aljube, e vê a
sua biblioteca particular confiscada pelo Estado!
Parte
para a América do Sul e, entre 1944 e 1969 lecciona em diversas
Universidades uruguaias, argentinas e brasileiras. No Brasil,
lecciona nas principais Universidades do País: São Paulo, Rio de
Janeiro, Santa Catarina, João Pessoa, Pernambuco, Brasília, Baía:
ensina entomologia, biologia, pedagogia, filosofia do teatro…Mas
ele não se limita a dar aulas. Vejamos só alguns dos seus feitos:
colabora, com outro português exilado, de seu nome Jaime Cortesão,
na organização da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro;
co-organiza, ainda com Jaime Cortesão, a Exposição comemorativa do
4º Centenário da Cidade de S. Paulo; é Director de Cultura do
Estado de Santa Catarina e funda aí a Universidade Federal de Santa
Catarina.
Tudo
isto ainda antes de lhe ser concedida a nacionalidade brasileira, o
que acontece em 1958; depois, integra a Comissão Instaladora da
Universidade de Brasília; cria o Centro de Estudos Afro-Orientais e
o Centro de Estudos Portugueses; é nomeado assessor para a
política externa do Presidente Jânio Quadros; após uma estadia no
Japão, onde dá aulas de português, regressa ao Brasil e
fixa-se na Baía; e funda a Casa Paulo Dias Adorno e o Museu do
Atlântico Sul no Forte de São Marcelo…
Em
1968 é eleito membro da Academia Internacional de Cultura Portuguesa
e, finalmente em 1969, (primavera marcelista, lembra-se?), é
autorizado a regressar a Portugal. E regressa, escreve em diversas
revistas portuguesas, mantém uma intensa relação com o Brasil e,
em 1987 é condecorado pelo Presidente da República com a Grã-Cruz
da Ordem de Santiago da Espada. Em 1990 … faz uma série de 13
episódios na RTP sob a epígrafe “Conversas Vadias”… Morre no
dia 3 de Abril de 1994.
Não
posso descrever mais que estes tópicos da vida de mais este
proscrito português…Na net encontra muito sobre ele, mas aconselho
“Vidas Lusófonas – Agostinho da Silva”, sem esquecer os 12
capítulos que se seguem à descrição da vida dele, que eu resumi.
E os seus “pensamentos”, no Citador, no KD Frases e no Tumblr.
É uma delícia. Mas além de professor, ensaísta, filósofo,
cientista e investigador, Agostinho da Silva escreveu mais de 60
obras, até um livro de poemas e umas novelas a que deu o nome
“Lembranças Sul-Americanas”, publicadas em 1989, o único livro
dele que li. Deixo aqui uma frase desse livro, que talvez sintetize
toda a sua vida: “… talvez um relógio de futuro, que toda a
minha vida tenho querido ouvir e que sempre se me furta por este
meu feitio andarilho e temeroso de deixar de ser livre.”
Mais um grande testemunho de um Homem cuja inteligência e capacidade (infelizmente por motivos políticos), teve que sair do seu país e acabar por adoptar a nacionalidade brasileira, tendo deixado uma vasta obra num país que o recebeu de braços abertos e lhe deu liberdade para exercer e expandir todo o seu talento e conhecimentos. Na história de um país, há sempre ciclos que se repetem. Outrora emigravam, ou fugiam a "salto" como se dizia na época, à procura de um lugar onde pudessem ganhar melhor e ter liberdade de expressão. E assim perdemos muitos talentos que não sendo aproveitados por cá, ofereceram os seus préstimos no estrangeiro, que os recebeu e lhes deu um futuro. Já para não falar nos que faleceram nas prisões ... Hoje em dia, também não se aproveitam muitas das grandes inteligências que por cá temos, porque até as temos, e incentivam-se os jovens recém-formados e investigadores a emigrar novamente. Portugal (os pais principalmente) investe na formação dos seus filhos, e depois não os aproveita mandando-os emigrar! O estrangeiro que lhes proporcione um futuro. Mas Agostinho da Silva não se deixou derrotar e deixou por herança uma vasta obra em várias vertentes. Obrigada amigo Auzendo por mais este texto. Um abraço Lourdes .
Além de querer recordar a vida deste português, achei, como digo no texto e a Lourdes salienta, que estamos novamente a expulsar “muitas das grandes inteligências que por cá temos”, desperdiçando o investimento feito na sua formação. Apraz-me que a Lourdes tenha retomado, e enfatizado, este aspecto, pois dele depende em muito o futuro do País. E recordar o passado, a História, os nossos “maiores”, só faz mesmo sentido se soubermos tirar as devidas lições dos erros cometidos e fazer tudo para não os repetir. Estamos a fazer isso?
É verdade, Lourdes, que “Agostinho da Silva não se deixou derrotar” … mas o País perdeu o essencial da sua capacidade de acção.
Sempre tive e tenho o defeito de gostar de ouvir falar quem fala bem. Recordo-me muito bem de ouvir o professor Agostinho da Silva nas suas palestras na televisão, com as suas Conversas Vadias. Era um prazer ouvi-lo e também ver a sua simplicidade, sempre com o seu gatinho preto ao colo. Que bom seria se a televisão repetisse aqueles programas.
Emocionei-me ao ler o seu texto professor Auzendo. Esta é uma das figuras do nosso século vinte que mais me entusiasmou, não perdi uma das suas “ Conversas Vadias” na televisão. Ele era… um vadio, no pensamento e na sua vontade de viver livre. Na RTP memória tem dado em repetição as suas conversas com Maria Elisa, e sempre que me foi possível voltei a ouvi-las, o que em mim é coisa muito rara, porque não gosto de repetições. No entanto, aqui não revivi, vivi! E tornarei a ouvir se tiver oportunidade, de todas as vezes aprendemos e é fácil compreender, porque a sua inteligência era tão grande que ele vem até nós e ensina-nos como havemos de escutá-lo. Não invejo quem tem riquezas, mas sinto “ inveja” - não será esta palavra tão feia, é mais uma sensação incómoda - de me sentir tão pequena ao pé de quem nasceu com esta capacidade e esta humildade…e a pôs ao serviço dos outros. Que grande SENHOR nos trouxe hoje, professor! Escrever sobre pessoas como esta faz com que eu não me canse de ler o seu texto, uma, duas, três vezes, para que fiquem bem gravadas na minha memória a vida e a obra de tão grande vulto. Obrigada Maria Alexandrina
Se a Alexandrina se emocionou ao ler o meu texto, que direi eu ao ler o comentário dela!...Estava longe de imaginar, ao escrever o que escrevi, que ia encontrar, logo aqui ao lado, uma pessoa (aliás, duas, a D. Lisete aí está também) tão apaixonada pela vida e obra de um Homem que, como disse, só “conheci” verdadeiramente depois de ele morrer. Claro que também segui as suas Conversas, a que por vezes “dava uma certa desculpa”, eu sou mais terra a terra, e eis que descobrimos alguém que o “seguia” religiosamente…
Mas não foi só isto que me emocionou neste comentário: foi também, e talvez essencialmente, a capacidade, a sensibilidade da autora de nos transmitir, ao escrever, as emoções que sentia ao fazê-lo. Falou ela de inveja: também eu falo, mas de não saber pôr, assim, o “coração” nas potas dos dedos … Isso ensina-se, Alexandrina?
Já agora uma informação lateral, em nome da justiça: não é da minha autoria a ideia de publicar junto ao texto aquele poema que, sendo de Agostinho da Silva sobre nós, diz tudo sobre ele e sobre nós…A ideia, e a surpresa para mim, foi de Afonso Faria. Lamentavelmente, eu não conhecia o poema. Grato fiquei: sem nada dizer … o nosso “gestor” mostrou-se, também, um seguidor de Agostinho da Silva…Parece que não está só, Alexandrina.
Sou mais uma que gostou que tão simples e grande figura das letras tivesse sido lembrado neste nosso blogue. As pessoas sábias são sempre muito simples e naturais. Já li alguma coisa de tão ilustre pessoa e não dava pelo tempo quando o ouvi nas suas interessantes conversas televisivas. Embora tenham desperdiçado tanto saber e injustamente tenha sido obrigado a sair do País, ainda veio a tempo de ensinar e nos legar muito do seu saber e da sua maneira de estar. Só é vaidoso quem é ignorante. Por isso ele era tão simples na sua aparência e na sua transmissão de conhecimentos. Manuela
Regozijo-me, Manuela, com a descoberta de outra admiradora de Agostinho da Silva. E com a sua, da Manuela, postura perante a vida. Que me fez lembrar esta frase de Mia Couto, ultimamente divulgada na "rede": "A pressa em mostrar que não se é pobre é, em si mesma, um atestado de pobreza."...
Às vezes precisamos de ser espicaçados para voltarmos a pensar e a reflectir sobre coisas que pensávamos estarem fora de moda, e para nos apercebermos quão actuais elas estão. Foi o que me aconteceu com Agostinho da Silva: voltei…
Ao reler as cartas, por ele escritas, dirigidas a um jovem filósofo, fiquei espantada como, nesta altura do “nosso campeonato”, precisamos de nos sentir seus discípulos para irmos buscar no fundo da nossa alma o que Agostinho da Silva mais se animava em transmitir: a de não nos conformarmos. E mais isto: ”são meus discípulos … os que estão contra mim”. Transcrevo:
“Pense por si próprio Do que você precisa, acima de tudo, é de se não lembrar do que eu lhe disse; nunca pense por mim, pense sempre por você; fique certo de que mais valem todos os erros se forem cometidos segundo o que pensou e decidiu do que todos os acertos, se eles foram meus, não seus. Se o criador o tivesse querido juntar muito a mim não teríamos talvez dois corpos distintos ou duas cabeças também distintas. Os meus conselhos devem servir para que você se lhes oponha. É possível que depois da oposição, venha a pensar o mesmo que eu; mas, nessa altura, já o pensamento lhe pertence. São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim; porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem.”
Agostinho da Silva, em 'Cartas a um Jovem Filósofo’.
Ou seja, reforçarmos a ideia de respeitar e valorizar a diferença.
Concordo inteiramente consigo, Adelaide, e também com o "desabafo" do Paulo Cardozo: grandes lições de vida e grandes verdades, que frequentemente a própria vida, e outras vezes as conveniências de momento, os oportunismos, levam a que sejam esquecidas, ou mesmo combatidas.
Estes dois vossos últimos "desabafos" mostram mesmo que é importante, de vez em quando, trazer estas verdades ao de cima. Para que nos emocionemos e possamos reflectir...
Mais um grande testemunho de um Homem cuja inteligência e capacidade (infelizmente por motivos políticos), teve que sair do seu país e acabar por adoptar a nacionalidade brasileira, tendo deixado uma vasta obra num país que o recebeu de braços abertos e lhe deu liberdade para exercer e expandir todo o seu talento e conhecimentos.
ResponderEliminarNa história de um país, há sempre ciclos que se repetem. Outrora emigravam, ou fugiam a "salto" como se dizia na época, à procura de um lugar onde pudessem ganhar melhor e ter liberdade de expressão. E assim perdemos muitos talentos que não sendo aproveitados por cá, ofereceram os seus préstimos no estrangeiro, que os recebeu e lhes deu um futuro. Já para não falar nos que faleceram nas prisões ...
Hoje em dia, também não se aproveitam muitas das grandes inteligências que por cá temos, porque até as temos, e incentivam-se os jovens recém-formados e investigadores a emigrar novamente.
Portugal (os pais principalmente) investe na formação dos seus filhos, e depois não os aproveita mandando-os emigrar! O estrangeiro que lhes proporcione um futuro.
Mas Agostinho da Silva não se deixou derrotar e
deixou por herança uma vasta obra em várias vertentes.
Obrigada amigo Auzendo por mais este texto.
Um abraço
Lourdes .
Além de querer recordar a vida deste português, achei, como digo no texto e a Lourdes salienta, que estamos novamente a expulsar “muitas das grandes inteligências que por cá temos”, desperdiçando o investimento feito na sua formação. Apraz-me que a Lourdes tenha retomado, e enfatizado, este aspecto, pois dele depende em muito o futuro do País. E recordar o passado, a História, os nossos “maiores”, só faz mesmo sentido se soubermos tirar as devidas lições dos erros cometidos e fazer tudo para não os repetir. Estamos a fazer isso?
EliminarÉ verdade, Lourdes, que “Agostinho da Silva não se deixou derrotar” … mas o País perdeu o essencial da sua capacidade de acção.
Auzendo
Sempre tive e tenho o defeito de gostar de ouvir falar quem fala bem. Recordo-me muito bem de ouvir o professor Agostinho da Silva nas suas
ResponderEliminarpalestras na televisão, com as suas Conversas Vadias. Era um prazer ouvi-lo e também ver a sua simplicidade, sempre com o seu gatinho preto ao colo. Que bom seria se a televisão repetisse aqueles programas.
Lisete
ResponderEliminarEmocionei-me ao ler o seu texto professor Auzendo. Esta é uma das figuras do nosso século vinte que mais me entusiasmou, não perdi uma das suas “ Conversas Vadias” na televisão. Ele era… um vadio, no pensamento e na sua vontade de viver livre. Na RTP memória tem dado em repetição as suas conversas com Maria Elisa, e sempre que me foi possível voltei a ouvi-las, o que em mim é coisa muito rara, porque não gosto de repetições. No entanto, aqui não revivi, vivi! E tornarei a ouvir se tiver oportunidade, de todas as vezes aprendemos e é fácil compreender, porque a sua inteligência era tão grande que ele vem até nós e ensina-nos como havemos de escutá-lo.
Não invejo quem tem riquezas, mas sinto “ inveja” - não será esta palavra tão feia, é mais uma sensação incómoda - de me sentir tão pequena ao pé de quem nasceu com esta capacidade e esta humildade…e a pôs ao serviço dos outros.
Que grande SENHOR nos trouxe hoje, professor! Escrever sobre pessoas como esta faz com que eu não me canse de ler o seu texto, uma, duas, três vezes, para que fiquem bem gravadas na minha memória a vida e a obra de tão grande vulto.
Obrigada
Maria Alexandrina
Se a Alexandrina se emocionou ao ler o meu texto, que direi eu ao ler o comentário dela!...Estava longe de imaginar, ao escrever o que escrevi, que ia encontrar, logo aqui ao lado, uma pessoa (aliás, duas, a D. Lisete aí está também) tão apaixonada pela vida e obra de um Homem que, como disse, só “conheci” verdadeiramente depois de ele morrer. Claro que também segui as suas Conversas, a que por vezes “dava uma certa desculpa”, eu sou mais terra a terra, e eis que descobrimos alguém que o “seguia” religiosamente…
ResponderEliminarMas não foi só isto que me emocionou neste comentário: foi também, e talvez essencialmente, a capacidade, a sensibilidade da autora de nos transmitir, ao escrever, as emoções que sentia ao fazê-lo. Falou ela de inveja: também eu falo, mas de não saber pôr, assim, o “coração” nas potas dos dedos … Isso ensina-se, Alexandrina?
Já agora uma informação lateral, em nome da justiça: não é da minha autoria a ideia de publicar junto ao texto aquele poema que, sendo de Agostinho da Silva sobre nós, diz tudo sobre ele e sobre nós…A ideia, e a surpresa para mim, foi de Afonso Faria. Lamentavelmente, eu não conhecia o poema. Grato fiquei: sem nada dizer … o nosso “gestor” mostrou-se, também, um seguidor de Agostinho da Silva…Parece que não está só, Alexandrina.
Auzendo
Sou mais uma que gostou que tão simples e grande figura das letras tivesse sido lembrado neste nosso blogue.
ResponderEliminarAs pessoas sábias são sempre muito simples e naturais.
Já li alguma coisa de tão ilustre pessoa e não dava pelo tempo quando o ouvi nas suas interessantes conversas televisivas.
Embora tenham desperdiçado tanto saber e injustamente tenha sido obrigado a sair do País, ainda veio a tempo de ensinar e nos legar
muito do seu saber e da sua maneira de estar.
Só é vaidoso quem é ignorante. Por isso ele era tão simples na sua
aparência e na sua transmissão de conhecimentos.
Manuela
Regozijo-me, Manuela, com a descoberta de outra admiradora de Agostinho da Silva. E com a sua, da Manuela, postura perante a vida. Que me fez lembrar esta frase de Mia Couto, ultimamente divulgada na "rede": "A pressa em mostrar que não se é pobre é, em si mesma, um atestado de pobreza."...
EliminarAuzendo
***....As pessoas sábias são sempre muito simples e naturais.
ResponderEliminar....Só é vaidoso quem é ignorante.....***
Grandes verdades!!!!
Grande Manuela!!!!
Grande Agostinho da Silva!
Obrigada por todos os teus comentários!!!!
Lourdes
Às vezes precisamos de ser espicaçados para voltarmos a pensar e a reflectir sobre coisas que pensávamos estarem fora de moda, e para nos apercebermos quão actuais elas estão. Foi o que me aconteceu com Agostinho da Silva: voltei…
ResponderEliminarAo reler as cartas, por ele escritas, dirigidas a um jovem filósofo, fiquei espantada como, nesta altura do “nosso campeonato”, precisamos de nos sentir seus discípulos para irmos buscar no fundo da nossa alma o que Agostinho da Silva mais se animava em transmitir: a de não nos conformarmos. E mais isto: ”são meus discípulos … os que estão contra mim”. Transcrevo:
“Pense por si próprio
Do que você precisa, acima de tudo, é de se não lembrar do que eu lhe disse; nunca pense por mim, pense sempre por você; fique certo de que mais valem todos os erros se forem cometidos segundo o que pensou e decidiu do que todos os acertos, se eles foram meus, não seus. Se o criador o tivesse querido juntar muito a mim não teríamos talvez dois corpos distintos ou duas cabeças também distintas. Os meus conselhos devem servir para que você se lhes oponha. É possível que depois da oposição, venha a pensar o mesmo que eu; mas, nessa altura, já o pensamento lhe pertence. São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim; porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem.”
Agostinho da Silva, em 'Cartas a um Jovem Filósofo’.
Ou seja, reforçarmos a ideia de respeitar e valorizar a diferença.
QUE GRANDE LIÇÃO!
EliminarGrato
Paulo Cardozo
Comovi-me ao ler este artigo e os comentários. Tantas verdades. Obrigado
ResponderEliminarAdelaide
Concordo inteiramente consigo, Adelaide, e também com o
Eliminar"desabafo" do Paulo Cardozo: grandes lições de vida e grandes verdades, que frequentemente a própria vida, e outras vezes as conveniências de momento, os oportunismos, levam a que sejam esquecidas, ou mesmo combatidas.
Estes dois vossos últimos "desabafos" mostram mesmo que é importante, de vez em quando, trazer estas verdades ao de
cima. Para que nos emocionemos e possamos reflectir...
Auzendo