Ao
tomar
conhecimento
de
que
o
Governo
ia
abolir
o
feriado
do
1º
de
Dezembro,
dia
da
Restauração
da
Independência
de
Portugal,
veio-me
à
lembrança
a
nossa
Banda,
que
todos
os
anos
nos
acordava
na
madrugada
desse
dia
tocando
um
Hino,
e
a
quem
nós,
Sobralenses,
“agradecíamos”
abrindo
as
janelas,
e
escutando.
Desafiei
o
Manuel
Mota
Luís,
que
foi
músico
muitos
anos
da
Banda
Filarmónica
do
Sobral,
e,
juntos,
resolvemos
contar
aqui
coisas
que
sabemos.
Muitos
jovens,
e
alguns
moravam
a
três
ou
quatro
quilómetros
de
distância
da
vila,
depois
de
um
longo
dia
de
trabalho,
deslocavam-se
a
pé
para
fazerem
o
ensaio
semanal:
prestamos
homenagem
a
estes
rapazes
voluntários,
movidos
apenas
pelo
gosto
de
aprender
a
arte
do
solfejo
e,
mais
tarde,
terem
um
instrumento
musical
e
uma
farda
para
se
exibirem
nas
festas,
quase
sempre
religiosas.
Diz
o
ditado
que
“quem
corre
por
gosto
não
cansa”,
e
estes
jovens,
e
outros
menos
jovens,
levavam
o
nome
de
Sobral
de
Monte
Agraço,
de
terra
em
terra,
onde
iam
actuar.
Pelos
programas
das
Festas
e
Feiras
de
Verão,
que
consultámos,
pudemos
observar
que,
em
1953,
a
Banda
actuou
com
o
nome
de
Banda
Municipal;
em
1954
a
não
actuou;
e
voltou
a
actuar
em
1955,
já
com
o
nome
de
Banda
dos
Bombeiros
Voluntários
de
Sobral
de
Monte
Agraço.
De
facto,
em
Outubro
de
1954,
após
conversações
entre
a
Câmara
e
os
Bombeiros,
foi
decidido
em
Assembleia
Geral
que
os
Bombeiros
Voluntários
tomassem
conta
da
Banda.
Contou-nos
um
amigo
que,
um
dia,
a
Banda
foi
tocar
às
festas
da
Senhora
dos
Milagres,
tinha
chovido
e
os
caminhos
estavam
enlameados,
fazendo
grandes
sulcos
no
terreno;
o
músico
do
bombo,
com
aquele
grande
instrumento
musical,
não
se
apercebendo
de
uma
regueira,
enterrou-se
até
aos
joelhos.
Mesmo
enfiado
no
ventre
da
terra,
e
enquanto
um
grupo
de
homens
o
içavam,
o
músico
não
deixou
de
“martelar”
o
seu
bombo
e
ninguém
se
apercebeu
do
sucedido.
Um
voluntário
cheio
de
profissionalismo...
A
Banda
teve
alguns
maestros
de
fora
da
vila,
mas
teve
sempre
a
acompanhá-la,
ora
tocando,
ora
escrevendo
partituras,
ora
ensinando
solfejo,
o
Senhor
António
Marques
Serreira,
um
homem
de
corpo
inteiro,
dedicado
às
associações
da
vila,
principalmente
à
Banda,
por
isso
aqui
lhe
prestamos,
também
a
ele,
a
nossa
homenagem
póstuma:
barbeiro
de
profissão,
fazia
da
barbearia
a
sua
sala
de
música
e
era
habitual
ouvi-lo
a
tocar
o
seu
saxofone.
Senhor
Serreira,
acreditamos
que
os
Sobralenses
lhe
estão
muito
agradecidos.
O
solfejo
era
ensinado
pelos
músicos
mais
velhos
aos
que
começavam.
E
aqui
temos
que
falar
também
na
família
Libânio,
grandes
músicos
da
terra
e,
mais
tarde,
em
Delfim
Vicente:
todos
contribuíram
para
o
sucesso
da
Banda.
No
dia
26
de
Agosto
de
1956,
a
Banda
sofreu
um
grave
acidente:
a
camioneta
de
caixa
aberta
que
transportava
os
músicos,
também
transportava
os
foguetes
para
a
festa
onde
iam
actuar,
na
Abrigada.
Pararam
para
deitar
uns
foguetes,
as
faúlhas
cairam
nos
outros
foguetes
que
estavam
na
camioneta,
a
explosão
aconteceu.
Os
músicos
mais
novos,
que
iam
na
frente
da
carrinha,
foram
os
que
mais
sofreram,
muitos
ficaram
muito
feridos,
alguns
foram
expelidos
e
atirados
a
alguns
metros
de
distância.
O
jovem
Artur
Manuel,
com
cerca
de
dez
anos
de
idade,
esteve
entre
a
vida
e
a
morte,
sofreu
queimaduras
graves
na
cara
e
no
corpo,
que
ficaram
visíveis
para
o
resto
da
vida.
Tudo
o
que
aqui
foi
relatado
é
do
nosso
conhecimento
pessoal,
ou
soubemo-lo
através
de
ex-músicos;
tentámos
por
outras
vias
procurar
um
historial
mais
profundo.
Como
nada
há
registado,
desafiamos
quem
saiba
mais
que
escreva
para
o
nosso
blogue,
para
que
fique
registado
e
não
se
perca
para
sempre
o
que
outros
lutaram
por
manter:
a
Banda
dos
Bombeiros
Voluntários
de
Sobral
de
Monte
Agraço.
Maria
Alexandrina
Reto
Manuel
Mota Luís
gostei do comentário sobre a nossa banda,mas ha uma pergunta que faço a mim pro-pia ha muito tempo.Se alguém souber,eu agradecia O que foi feito das fardas e dos instrumentos musicais?
ResponderEliminarÉ a biografia possível da banda dos bombeiros voluntários de Sobral de Monte Agraço narrada por Maria Alexandrina. Depois de uma rigorosa investigação (em que o meu marido também participou) sobre a banda, sei que deu muito trabalho recolher elementos reais sobre esta banda, que deixou de existir há muito anos. Algumas das personagens que faziam parte deste grupo já não estão entre nós. A minha querida colega Alexandrina fez a descrição dos factos com o máximo rigor, pelo que o seu trabalho está de parabéns. O meu marido também era um dos músicos e também estava presente no dia do trágico acidente em que ouve feridos, e alguns com gravidade, mas felizmente ao meu marido não aconteceu nada.
ResponderEliminarBeijinhos da colega.
Mariana
Mais uma revelação importante àcerca do Património Cultural desta terra. É pena que não haja quem tenha "garra" e condições para poder reactivar a actividade desta Banda, pois é sempre uma mais valia para os locais terem a sua Banda de Música própria. Além de ser bom para a própria localidade, seria uma maneira de cativar os jovens, ou os aposentados com conhecimentos para tal, e que
ResponderEliminarainda estejam activos, ocupando-lhes os tempos livres com uma actividade sã. Por outro lado seria um entendimento intergeracional que proporciona sempre muita aprendizagem.
Será que há por aí alguém com conhecimentos suficientes e boa vontade bastante, para empreender uma missão destas? Fica aqui o desafio.
Obrigada por mais esta partilha.
Lourdes.
Boa noite colega Lisete.
ResponderEliminarGostaria de lhe poder dar uma resposta concreta à pergunta que a senhora fez sobre as fardas, e dos instrumentos musicais, da banda dos bombeiros voluntários da nossa terra.
Perguntei ao meu marido, se ele sabia onde podiam estar guardados os instrumentos musicais. As fardas eram dos bombeiros, e os instrumentos talvez estejam guardados no cinema. Mas fica a pergunta no ar, se alguém souber onde possam estar guardados agradecíamos que Nos informassem.
Boa noite a todos os leitores deste blog .
Até breve
Boa noite colega Lisete.
ResponderEliminarGostaria de lhe poder dar uma resposta concreta à pergunta que a senhora fez sobre as fardas, e dos instrumentos musicais, da banda dos bombeiros voluntários da nossa terra.
Perguntei ao meu marido, se ele sabia onde podiam estar guardados os instrumentos musicais. As fardas eram dos bombeiros, e os instrumentos talvez estejam guardados no cinema. Mas fica a pergunta no ar, se alguém souber onde possam estar guardados agradecíamos que Nos informassem.
Boa noite a todos os leitores deste blog .
Até breve
Mariana
Não sou, aqui no Sobral, do tempo da Banda, mas não deixa de ser estranha esta aparente ausência de elementos sobre ela, especialmente quando se sabe, pelo documento encontrado e fotografado no texto, que ainda em 1987 estava pujante: tão pujante que até organizou um "Encontro de Bandas"...Era a Banda dos Bombeiros, os Bombeiros do Sobral até têm o seu museu, mas da Banda parece que nada. Nem fardas, nem instrumentos, não é, D. Lisete?
ResponderEliminarQuanto aos apelos e desafios, esses vão ter a mesma "sorte" que outros já feitos neste blogue: estamos de férias, ou em crise, ou bem instalados na vida, nada de muitas ondas. Não somos todos Fetais, nem Seramena,(nem mesmo Sapataria, parece).
José Auzendo
Através da pesquisa que efectuei para escrever o texto, fiz a mesma pergunta. Onde se encontrava o espólio da Banda? Os instrumentos que se encontravam em condições de ser utilizados, que não eram muitos, foram oferecidos à Escola de Música da Sapataria, Num incêndio que deflagrou na arrecadação do cinema, desapareceu todo o arquivo da Banda e também se estragaram alguns instrumentos.Porém, tive conhecimento de que um músico da nossa terra adquiriu há pouco tempo uns instrumentos, amolgados e bastante estragados, para recuperação.Quanto às fardas, não sei nada.
ResponderEliminarParece que o "mistério" dos instrumentos já está mais esclarecido, se calhar já nem é mistério: foi útil este esclarecimento da D. Alexandrina. E se alguns instrumentos foram oferecidos a uma Escola de Música, melhor fim não poderiam ter tido. Na Sapataria..., claro. As fardas talvez bastasse ter-se guardado duas ou três como testemunho, talvez não fosse viável, nem útil, guardar tantas dezenas de peças de roupa, agora já "fora de moda", se se pensasse em reactivar uma nova Banda.
ResponderEliminarResta, creio, e também já me tinha empenhado em saber disso, o espólio fotográfico e documental: o documento já citado do "Encontro de Bandas" é pertença da D. Alexandrina, e foi encontrado por acaso no sótão, segundo me disse. Mas devia haver outra documentação, pelo menos nos Bombeiros...E se calhar há! Por exemplo, quantos elementos foram ao longo dos anos compondo a Banda, suas idades, maestros...
E resta a "miragem" de uma nova Banda...Talvez na Sapataria!...
José Auzendo
Obrigada D. Alexandrina pelo esforço que tem feito em mostrar-nos a história do Sobral. Mas vou ficando cada vez mais “intrigada”, sem saber por onde anda o orgulho dos Sobralenses – tirando o que aqui se escreve, graças à carolice de “sempre os mesmos”, aqui nada se passa, nada interessa, nada se sabe…Parece que já tiveram “tudo”, mas não conseguem reerguer nada. No mínimo, estranho! Por esse país fora assistimos ao ressurgimento de Bandas, grupos de teatro, recolhas de usos e costumes antigos… em grande parte por jovens, devidamente enquadrados, a quem os mais velhos passam o seu saber e de que todos se orgulham. Ou seja, há vida colectiva, em comunidade, dinâmica social. Sente-se isso por cá, fora das mesas dos cafés? Não vejo e tenho pena.
ResponderEliminarInês
Não conheço a Senhora e tenho pena mais uma vez lhe dou razão. Cá ninguém se preocupa com a comunidade, à muita solidão nestas terras só aqui leio coisas interessantes sobre esta terra e continuo a aprender e até me fazem companhia pois não frequento os cafés. acho que se podia fazer mais mas é muito egoísmo e quem está bem não se lembra de quem precisa. Desculpe e obrigado.
ResponderEliminarAdelaide
D.Adelaide, fiquei muito sensibilizada com o seu comentário, também eu teria muito prazer em conhecê-la. Um dia … quem sabe?
EliminarNão sou natural do Sobral, vivo cá – não propriamente na vila, gosto de viver cá e por cá vou tentando ter alguma participação na comunidade. Este blogue tem, de facto, dado a conhecer interessantes histórias de vida e histórias da terra que pareciam estar arredadas da lembrança dos Sobralenses.
Fico contente por sabê-la leitora atenta, suas palavras serão certamente um bálsamo para as pessoas que mantêm o blogue activo. Eu também sou leitora atenta e gosto de comentar o que leio e gostava que a D. Adelaide o fizesse mais vezes.
Inês
Parabéns à autora do artigo e ao trabalho de investigação feito pela equipa, que muito enriquece todos aqueles que se interessam pela história desta vila. As Bandas filarmónicas sempre foram, e ainda são, uma referência nacional a nível musical. Muitos dos músicos profissionais do nosso país começaram os seus estudos nas Bandas da sua região. Pena que se tenha uma memória tão curta e que se viva de "modas".
ResponderEliminarHá pouco tempo assiti a um ensaio do coro "Gente gira" e fiquei muito impressionada com o trabalho sério e motivante que estão a desenvolver.Porque não abrir uma aula instrumental?
Marina Henriques
Pois é, Marina, a memória é curta, passa tudo tão depressa que nos vemos aflitos para acompanhar a “moda”. Banda Filarmónica? Coisa pirosa! Mas de repente lembrei-me que a culpa talvez seja dos instrumentos – não acompanharam o marketing - pouca publicidade, marcas antiquadas, desconhecidas…Um saco!
EliminarQue tal um Piano da Nike, um Acordeão da Adidas, uma Flauta da Prada, um Saxofone da Benetton e por aí afora?… Estas marcas, sim, nós exibimos com muito orgulho, pagas a preço de ouro; estas marcas que dão tanto status e, ainda por cima, não brincam em serviço (publicidade)… Quem sabe a “moda” pega? Olha: o meu piano é… o meu acordeão é… e talvez a “malta” fosse na onda e animasse.
Ah! A não esquecer também a roupinha.
Estou a brincar, mas não muito… alguém tem ser optimista!
Inês
Começo por dizer à D. Inês e à D. Marina que não me devem agradecer por lhes falar da Banda, porque foi com prazer que o fiz. A minha grande frustração é pensar, que embora fale, nada se resolve A Banda como tudo o que faz ou fez, parte desta Terra, estão no meu coração e sinto uma grande nostalgia, por se estar perdendo tanto da nossa tradição.
ResponderEliminarAcabou a banda por falta de dinheiro, mas também compreendo que é muito mais difícil cativar os nossos jovens, eles têm uma vida mais preenchida (com coisas às vezes, muito menos interessantes) mas que os distrai. Saem cedo da vila para ir para os Colégios ou para as Universidades, não estão tão radicados na sua terra, digo... que não se enraízam.
Se houver alguém disponível,para ensinar, porquê não tentar...
A todos os que participaram com os seus comentários, eu é que lhes agradeço, por estarem atentos ao que se passa no nosso blogue.
Um abraço
Maria Alexandrina
Vou aqui contar uma história relacionada com a banda e com o meu marido.
ResponderEliminarAndava a aprender música assim como o Manecas o António José e o Néu. Tenho uma fotografia que confirma o dito.
O meu marido não era capaz de andar e tocar ao mesmo tempo. Então o mestre da banda, talvez para o não desmotivar sugeriu que num lº
de Dezembro ele participasse no desfile. Assim ele lá seguiu na banda mas com o instrumento tapado. Ele contava este episódio com muita graça e os nossos filhos riam muito. Manuela
Fiz alguma investigação e cheguei à conclusão que a história dos instrumentos da banda é um pouco complicada. Disseram-me que os ditos instrumentos fazem parte do espólio dos Bombeiros Voluntários, o que é bom. Mas são só alguns, porque os outros, tal como: Flautas transversais, clarinetes ...... ficaram em poder dos próprios musicos que os tocavam, o que é mau. Seria interessante fazê-los voltar ao local próprio, ou seja, aos Bombeiros Voluntários, mas como? Não sou eu quem vai levantar essa lebre. Também me disseram que alguns foram emprestados à Freguesia da Sapataria. Para quê?
ResponderEliminarNestas coisas é sempre muito melindroso mexer-se...... Portanto fica aqui o desafio, quem quer achar os instrumentos?
Não contem comigo, problemas já tenho alguns, não quero mais, obrigada.
Gostei muito deste trabalho da Maria Alexandrina, tal como gostava muito da Banda do Sobral. Obrigada por me teres feito recordar as manhãs, ainda noite, em que me punha à janela a ver a banda passar.
Mimi