OS TRÊS AMIGOS
Hoje volto a falar em “copos”, um
pretexto para que nos voltem a acusar de não termos outro tema para abordar. Advirto
que nada me preocupa a opinião dos que a coberto do anonimato me atiram pedras
e escondem a mão, numa atitude de absoluta cobardia.
São “aves de arribação” que caíram por
aqui, sem quaisquer conhecimentos dos costumes e dos hábitos da nossa gente e da
forma como se pode entender o tipo de humor que se cultivava nas nossas
aldeias.

Oferecer um “copo” a um amigo era
considerado um dever e era encarado como uma expressão de amizade. E se a
taberna era o local de excelência para os “bêbados”, também por lá permaneciam
alguns homens que não consumiam álcool.
Não se estranha, portanto, que muitas
das histórias que se contavam tivessem origem na taberna e que envolvessem
“copos”.
Não temos qualquer admiração por
“bêbados” e lamentamos o drama de todos quantos enveredam pelo caminho do
álcool, era uma prática muito frequente e que infelizmente ainda hoje se faz
sentir.
Previno que não estou disponível para
entrar em polémicas sobre este ou quaisquer outros temas e prometo que não
falarei em “copos” nos tempos mais próximos.
Após estas breves notas, vamos à nossa
crónica de hoje.
Nos anos quarenta do século passado,
num tempo de alguma acalmia entre a II Guerra Mundial e a Guerra Colonial em África, a grande maioria dos jovens, designadamente das regiões centro e sul do
nosso País cumpriam o serviço militar obrigatório em Lisboa, nos muitos
quartéis que se localizavam na Capital.
Num desses quartéis durante uma
recruta, estabeleceram uma relação de amizade e de camaradagem três jovens, um
originário aqui da região “saloia” e os outros dois, vindos algures do
Ribatejo.
Aos fins de semana, sempre que não
estavam de serviço e se havia dinheiro para a viagem, iam passar o domingo à
Terra, apanhando a “carreira”, o autocarro de transporte público,
que servia as suas localidades, na Rua da Palma, na Garagem Lys ou na Garagem Navarro, conforme o caso. Nesse tempo não havia terminais rodoviários.
que servia as suas localidades, na Rua da Palma, na Garagem Lys ou na Garagem Navarro, conforme o caso. Nesse tempo não havia terminais rodoviários.
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Garagem Liz na Rua da Palma |
Esta prática decorreu durante todo o
tempo que estiveram na “tropa”. Findo o cumprimento de serviço militar, dois
dos amigos voltaram às suas aldeias, enquanto que o “nosso conterrâneo”
continuou em Lisboa, agora a trabalhar nas “obras”, mas fazendo semanalmente o
mesmo trajecto que fazia anteriormente.
Contudo, não deixou de ir à taberna do
costume, onde o taberneiro sabendo o seu hábito lhe aviava três “copinhos”, que
ele bebia com grande satisfação, um à sua saúde e os outros à saúde dos seus
amigos.
Porém, certo dia, interpolou o homem da
taberna, dizendo que naquele dia, só queria que lhe aviasse dois “copinhos”.
Aquele com um ar apreensivo perguntou:
Não me diga que morreu algum dos seus
amigos?
Ao que ele respondeu de pronto.
NÃO SENHOR, FELIZMENTE QUE NÃO, FUI EU QUE DEIXEI DE BEBER.
Eduardo João
Mais uma das muitas histórias que o Dr. Eduardo João ouviu contar aos mais antigos e que nos traz, para que não se percam no tempo.
ResponderEliminarGostei da maneira como narrou a história e gostei sobretudo da personagem um homem de convicções,um homem que se tornou abstémio, mas que não queria esquecer os amigos, e assim bebia por eles, e com que sacrifício o devia ter feito...calculo.
Maria Alexandrina
Mais uma história engraçada e diferente, retirada do "livro de recordações" do Dr. Eduardo João.
ResponderEliminarUma maneira muito peculiar de demonstrar amizade pelos amigos...
Outros tempos, outras hábitos, mas não é por isso que as amizades não seriam mais sinceras.
Obrigada Dr. por nos contar mais uma das suas Recordações de Infância. Só assim elas poderão sobreviver e não serem esquecidas.
Lourdes Henriques.