“Na
Europa mesmo ao Sul há um país encantador, onde se pintam de azul
os que não são da cor”.
Começo
este texto com um verso que, nos finais do anos 50 e princípios de
60 do século passado, era dito mais ou menos assim, mas em surdina …
não fosse o “diabo tecê-las”. Intelectuais, operários,
camponeses e estudantes… homens e mulheres, não suportando a forma
como se vivia, reuniam-se clandestinamente para discutirem a situação
do País: não tinham outra forma de o fazer, não eram autorizados.
Por isso e pela sua actividade política - vivíamos num regime de
Partido Único - eram perseguidos, oprimidos e torturados por uma
polícia que se dizia Polícia Internacional de Defesa do Estado,
vulgo PIDE
que, quando tinha conhecimento destas reuniões, se preparava para
apanhá-los, como coelhos na toca. Para que fosse mais fácil a
captura, e conforme os participantes iam saindo das reuniões,
atingiam-nos com jactos de tinta azul, para que fosse possível a sua
identificação, caso tentassem fugir às suas garras. Assim, eram
apanhados, presos, e levados para a Rua António Maria Cardoso, para
interrogatório e, mais tarde encaminhados para Caxias
ou
Peniche.

“Na
Europa mesmo ao Sul”, há “Um País à beira mar plantado”, em
que os trabalhadores rurais não tinham horário de trabalho,
trabalhavam sol a sol, seis dias da semana, e só não trabalhavam ao
domingo porque Deus mandou descansar ao sétimo dia… A jorna
era miserável e o trabalho muito duro. Verificou-se então um êxodo
de emigração para o Centro da Europa. A “salto”
ou legalmente, as pessoas tentavam noutros países o que o seu não
lhes dava: um ordenado com que pudessem subsistir com a família, e
com dignidade.
O
analfabetismo existia num grau muito elevado e as Universidades eram
só acessíveis aos filhos dos abastados. Não havia acesso à
Cultura.
“Na
Europa mesmo ao sul há um país encantador… que passou a ser de
dor”!...As
províncias Ultramarinas pedem a sua independência. Como não
foram atendidas, rebenta a guerrilha, a Guerra do Ultramar, a
teimosia em não se negociar a paz, levou-nos a 13 anos de guerra. Os
pais viviam numa ansiedade quando os filhos se aproximavam da idade
do serviço militar. Hoje não se sabe qual será o futuro dos
jovens, mas naquele tempo milhares de jovens não tiveram futuro…
Quanta dor e tristeza nos rostos da sua gente. Este País era triste,
desconfiado e taciturno.
“Na
Europa mesmo ao sul há um país encantador “…Que um dia foi
abençoado, e a cor azul da tinta foi substituída pelo vermelho do
cravo. Militares
descontentes quiseram pôr fim à ditadura e, das suas armas, em vez
de balas, brotaram cravos de ternura.
O
povo invadiu as ruas, foram lançadas palavras de ordem e cantámos
nossos cantares. E nesta união entre militares e povo se completou a
Revolução. Logo o pedido do povo aos militares foi que construíssem
um Portugal Novo. E mesmo ao romper do dia, uma nova palavra surgiu,
para nós era tão nova era ela: Democracia. Depois de grande
alvoroço e de grande ansiedade, o povo renasceu e aprendeu a viver
num Portugal em Liberdade.
Viva
o 25 de Abril!
Maria Alexandrina
Amiga Maria Alexandrina
ResponderEliminarComo sempre nos habituo está lindo o texto !! Parece que recuamos no tempo e estamos a viver de alma e coração a revolução dos cravos!!! E tem musica !! está um espanto !! Adorei !!
PARABÉNS !!
bjs
avoluisa
Obrigado Sr. Afonso, pelo poema e pela canção, venho dizer-lhe que me fez chorar...
ResponderEliminarApesar dos contratempos estão mais actuais os nossos poetas e "há sempre alguém que resiste...há sempre alguém que diz não"( Manuel Alegre e o Ary deixou-nos esta mensagem de esperança:
Agora que floriu/ a esperança na nossa terra/ as portas que Abril abriu/ nunca mais ninguém as cerra.
OBRIGADA
Maria Alexandrina
Pelo Natal de 2011, alguém, sem saber, fez com que eu desenterrasse das catacumbas da memória, do meu “baú de recordações”, um poema que, nos finais dos anos 60 princípios dos 70, eu de vez em quando declamava em grupo, tipo jograis… O choque foi reparar que tinha estado quase 40 anos sem me “lembrar” desse poema. E recordava, de quando em vez, locais e momentos em que a declamação acontecia: os magustos no pinhal da Paiã, em Odivelas, por exemplo. Mas o poema tinha-se-me varrido, até mo terem “trazido” … pelo Natal.
ResponderEliminarA leitura deste poema ao 25 de Abril da Alexandrina – digo bem, não fiz confusão, poema, sim – voltou a trazer-me esse outro velho poema ao cimo do baú. Com muita emoção. E vou aqui, por tudo, deixar as duas últimas estrofes dele. Se o leitor quiser vê-lo todo, deliciar-se com o poema e com os desenhos que o acompanham – e é obrigatório que queira – google: http://devaneiosaovento.blogspot.pt/2010/01/liberdade-paul-eluard.html
(...)
Na saúde recobrada
No perigo dissipado
Na esperança sem memórias
Escrevo o teu nome
E ao poder de uma palavra
Recomeço a minha vida.
Nasci para te conhecer
E pra te chamar
LIBERDADE
Paul Éluard. Tradução de Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira.
Auzendo
Amiga Alexandrina
ResponderEliminarParabéns por mais este seu belo texto, este homenageando uma data que sendo de Muita Alegria, é pena que alguns a tenham estragado.
Viva o 25 de Abril sim senhor!
Tenho dois filhos homens que não sei se ainda cá estariam se não tivesse acontecido este Movimento.
Não sou, não fui nem NUNCA hei-de ser política, e DETESTO TODO E QUALQUER POLÍTICO, volto a afirmar aqui neste blogue, mas isso não quer dizer que seja insensível à dor dos outros. Também o meu pai e mais familiares foram vítimas
do "antigamente", e quanto mais não fosse por isso, estaria sempre de acordo e louvaria os militares de Abril.
A intenção deles foi boa. O oportunismo de alguns, é que estragou muita coisa.
Mas eu ainda acredito que tudo valeu a pena, e ainda sou dos que dizem:
VIVA O 25 DE ABRIL!
Um abraço da amiga
Lourdes.
Olá amiga Alexandrina,
ResponderEliminarParabêns pelo seu belo e oportuno texto. Li com muita atenção e interesse, e subescrevo cada palavra sua.Em relação à guerra do Ultramar, onde tantos jovens perderam a vida,devo dizer que felizmente o meu irmão não passou por lá mas, o meu marido esteve na Guiné durante quase dois anos, posso dizer, numa situação um pouco previligiada, se é que em guerra há situações de previlégio uma vez que se encontrava a fazer serviço na base Aérea mas, nem por isso era motivo de grande tranquilidade, uma vez que o perigo era constante.Felizmente que tudo terminou.
Curiosamente o 25 de Abril de 74,foi numa quinta-feira tal como este ano.
VIVA A NOSSA LIBERDADE
Obrigada
Um beijinho da amiga
Rosa Santos
É linda esta sua frase, Alexandrina: “E mesmo ao romper do dia, uma nova palavra surgiu, para nós tão nova era ela: Democracia.” E nestes 39 anos desse “romper do dia”, quero homenagear o capitão sem medo Salgueiro Maia e os seus seguidores, que, ao som de “Quis saber quem sou, o que faço aqui…” rumaram de Santarém a Lisboa, para o que desse e viesse…
ResponderEliminarPassados 21 anos sobre a sua morte, apetece-me Homenageá-lo – recordando que lhe foi negada por Cavaco Silva uma pensão de sobrevivência por relevantes serviços à Pátria, enquanto essa mesma pensão era atribuída a “outros” de que nem me apetece dizer o nome.
Razão tinha salgueiro Maia quando afirmou: “o difícil está feito o impossível leva mais tempo”.
Dou a palavra a Sofia Melo Breyner:
A SALGUEIRO MAIA
Aquele que na hora da vitória
Respeitou o vencido
Aquele que deu tudo e não pediu paga
Aquele que na hora da ganância
Perdeu o apetite
Aquele que amou os outros e por isso
Não colaborou com a ignorância ou vício
Aquele que foi «Fiel à palavra dada à ideia tida»
Como antes dele mas também por ele
Pessoa disse.
(Sophia de Mello Breyner Andresen)