Dias
depois
daquela
conversa
com
o
meu
amigo
Coreto,
apeteceu-me
descer
de
novo
até
à
Praça.
Sentei-me
num
banco
bem
perto
da
Estátua
do
Dr.
Eugénio
Dias.
Aí
viajei
no tempo...
Os
serões
na
Praça...desde
a
minha
meninice,
até
ao
tempo
em
que,
como
mãe,
levava
as
filhas
para
lá
brincarem.
Vieram-me
muitas
imagens
à
cabeça...Nas
décadas
de
40
e
50,
alguns
veraneantes
vinham
passar
as
suas
férias
no
Sobral,
uns
hospedados
na
Arcádia,
outros
alugando
habitação.
A
Praça
era
a
sala
de
visitas
onde
conviviam
forasteiros
e
Sobralenses.
Lembro-me
do
Sr.
Tarquínio
e
família
(a
filha,
D.
Mariete,
casou
cá
e
cá
vive),
da
Ofelinha
e
da
mãe
D.
Joaquina,
que
sempre
que
vinham
de
férias
me
traziam
uma
fita
para
o
meu
cabelo;
que
linda
colecção
eu
tinha...
Mais
pessoas
por
cá
passaram,
mas
esqueci
os
nomes.
Este
turismo
acabou,
mas
as
noites
na
Praça
continuaram
a
ser
um
hábito
dos
Sobralenses
durante
muitos
anos.
Hoje
dou
comigo
sozinha,
com
os
cafés
fechados,
num
silêncio
sepulcral.
Abstraí-me
dos
meus
pensamentos
e
comecei
a
ouvir
um
murmúrio.
Olho
para
um
lado
e
para
outro,
nada...ninguém.
Novamente
um
sussurro
atrai
a
minha
atenção
e
então
escutei:
a
conversa
era
em
voz
muito
baixa,
mas
alta
o
suficiente
para
eu
ouvir.
E,
surpresa!
Entendi
pelo
conteúdo
que
era
entre
o
Coreto
e
a
Estátua.
Escuto
a
voz
que
vem
de
mais
longe,
mais
rude,
não
de
pessoa
letrada,
e
deduzo
que
é
o
Coreto:
-
Quando
aqui
cheguei,
já
aqui
estavas
de
costas
voltadas
para
a
Praça,
deduzo
que
aprecies
outras
vistas…
-
Meu
amigo,
sempre
olhei
de
frente
quem
não
tinha
os
mesmos
ideais
que
eu
e,
assim,
os
meus
amigos
que
mandaram
erigir
este
monumento,
por
uma
subscrição
feita
entre
os
Sobralenses
e
com
um
donativo
da
Câmara,
acharam
que
este
era
o
lugar
indicado
para
eu
permanecer
eternamente,
não
sei
se
me
entendes…
O
que
vês
em
frente?
Esta
estátua
foi
erguida
em
1908,
ano
em
que
mataram
o
rei
D.
Carlos.
A
Monarquia
era
muito
contestada
também
no
Sobral,
e
os
meus
amigos
republicanos
decidiram
que
uma
forma
de
se
afirmarem
e
desafiarem
quem
nesta
terra
representava,
por
descendência,
o
poder
monárquico,
era
erguer
uma
estátua
a
um
homem
do
povo,
embora
de
famílias
abastadas,
que
se
notabilizou
pelo
seu
valor
e
não
por
títulos
herdados,
virada
para
a
propriedade
desses
representantes
da
Monarquia…
-
Sabes,
eu
de
política
percebo
pouco,
não
sou
intelectual,
como
vês
sou
um
simples
ornamento
desta
Praça
que
até
tem
o
teu
nome.
-
Depois
de
implantada
a
República,
o
Senhor
Manuel
da
Costa,
da
Farmácia,
que
foi
o
primeiro
Presidente
republicano
do
Município,
propôs
à
Câmara
que
esta
Praça,
que
se
chamava
do
Comércio,
passasse
a
ter
o
meu
nome,
ou
melhor,
o
nome
por
que
eu
era
conhecido.
O
meu
nome
completo
era
Eugénio
Libânio
Nogueira
Dias.
Nasci
nesta
vila
a
6
de
Setembro
de
1865
e
vim
a
falecer
apenas
com
40
anos
de
idade,
em
20
de
Abril
de
1906,
contagiado
por
um
doente.
-
Chamam-te
benemérito
e
herói…
porquê?


-
É
natural,
deixei
pouca
descendência,
só
uma
filha
e
julgo
que
nunca
tive
netos.
Perdeu-se
no
tempo
a
minha
história.
- O
teu funeral teve um
acompanhamento fora do que era habitual, dizem que eras muito
conhecido fora do Concelho.
- Sim, era bastante conhecido. Era
médico do “Partido Municipal”, um serviço idêntico ao que hoje
chamam Serviço Nacional de Saúde...mas só municipal, onde os que
não tinham posses eram atendidos gratuitamente. Gostava muito de o
fazer, por estar mais ligado aos desprotegidos. Também era Delegado
de Saúde. Tinha muitos amigos.
Percebi
que a conversa
terminara, mas ainda ouvi o Coreto murmurar, como estivesse a falar
com os seus botões: que bom que era se todos os Sobralenses
conhecessem a história da sua terra e dos seus conterrâneos! São
homens como este que a engrandecem, e que
construíram o
futuro.
Maria Alexandrina Reto
Boa noite amiga Alexandrina
ResponderEliminarCheguei aqui mesmo no momento em que este seu texto foi colocado.
A minha amiga de facto tem na sua cabeça todas estas lindas histórias contadas de uma maneira muito original, à semelhança das fábulas. É uma maneira cativante para o leitor menos atento e mais despreendido. Ainda deve ter para aí muitas na "gaveta", e será graças a elas que os "nossos sucessores" saberão algo da história desta terra. É bom que não a deixem morrer.
Obrigada e continue a brindar-nos com as suas memórias.
Um beijinho da
Lourdes.
Mais uma lição de história sobre a nossa terra. Bom ser divulgada parece que anda tudo sem interesse pelas nossas coisas, pode ser que lhe voltem a dar a vida que já teve. è triste ver assim esta praça.
ResponderEliminarObrigada
Adelaide
faço minhas as palavras da Sra. D. Lourdes Henriques.
ResponderEliminarEste texto, contem a informação sobre o Dr. Eugenio Dias, de uma forma muito peculiar.
bem haja, continue nos contando as historias da nossa terra.
Como forasteiro, e à medida que ia assentando por cá, várias vezes perguntei quem tinha sido este Eugénio Dias; e a resposta foi sempre mais ou menos esta, foi um médico "muito bom" do Sobral. E praticamente foi só isto o que ouvi.
ResponderEliminarHouve uma altura em que tentei mesmo investigar, mas nada encontrei escrito, nem na Biblioteca, nem na net...
O texto da D. Alexandrina não inclui só recordações, inclui elementos sobre Eugénio Dias que só podem estar escritos algures, onde não sei. Mesmo assim, parecem poucos esses elementos, tratando-se da personalidade que dá nome à "plaza mayor", à "plaza d'armas" do Sobral. Parece que o senhor ainda tem familiares vivos: não seria de aproveitar para se tentar escrever e publicar uma biografia mais completa de Eugénio Dias? Ao menos na Wikipédia!...
José Auzendo
Não restam dúvidas de que a “invenção” deste blogue (obrigada professor Faria) foi uma janela aberta sobre o Sobral, nem os monumentos lhe ficaram indiferentes; completamente sós, falam uns com os outros: mas mesmo com a praça deserta há sempre alguém à coca e descobre aquilo que lhes vai na alma .
ResponderEliminarSobre o Coreto já aqui me pronunciei. Percebi, finalmente, a razão pela qual a estátua do Dr. Eugénio Dias, que sabia ser médico, está colocada numa ponta da Praça virada para uma parede como se de castigo estivesse. Ele está mas é também à coca, em desafio… É que, assim de costas, não passa pela vergonha de viver numa Praça onde ninguém aparece para lhe fazer companhia.
Inês
Olá amiga Alexandrina
ResponderEliminarGostei muito da maneira original do teu texto sobreo coreto e a estátua do Dr. Eugénio Dias.
Comungo da tua tristeza sobre o abandono da praça.Tem havido uma falta de iniciativa para dar vida à parte mais nobre e bonita da nossa terra.
Parabéns por teres tanto talento na escrita e na imaginação.
Manuela
E que mais poderei acrescentar? Um texto lúdico com muito conteúdo. Se a história fosse assim transmitida nas escolas talvez não houvesse tanto desinteresse e insucesso nesta área disciplinar.
ResponderEliminarParabéns pela forma cativante como escreve e nos enriquece.
Um Beijinho,
Marina
Na sucessão direta não há descendentes. Teve uma filha Maria Júlia que morreu solteira e sem descendentes. Por sinal é minha madrinha de baptismo e que se saiba sou o unico sobrinho vivo do DR. EUGENIO DIAS a quem foi dado o mesmo nome: Eugenio Dias. Desde o desaparecimento do DR.EUGENIO DIAS que os seus conterraneos e descendentes colaterais foram "muito indiferentes" a este HOMEM que alé3m de Médico foi um SER HUMANO ENORME que por se envolver tanto com os seus doentes morreu de doença contagiada por um doente. Lamento que as autarquias (freguesia e camara municipal) nesta "nova Republica, pós 25 de Abril não tenham ainda prestado homenagem a Republicanos da 1ª REPUBLICA nascidos em Sobral de Monte Agraço!? onde o DR. EUGENIO DIAS tem lugar destacado e essa Vila e sede de concelho também
ResponderEliminar