Na
primeira parte destas minhas conversas, falei de alguém, o meu irmão
Dimas, que tinha todas as razões para se sentir derrotado e que
reagiu sempre às adversidades da vida.
Eu
fui uma privilegiada em relação aos meus irmãos, mas claro que a
vida era difícil nessa época e só eu sei o desgosto que tive ao
sair da escola e não poder alargar os meus estudos … Não era
fácil por falta de poder económico, mas também as mentalidades
eram outras… os transportes eram escassos e só em Torres Vedras
havia escolas do Ensino
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Feliteira |
Fui
ensinada a viver com o que tínhamos, e assim fui habituada a ser
poupada e só dessa forma pude educar três filhas com alguma
dignidade. E foi só graças ao meu trabalho e do meu marido que
conseguimos fazê-lo. Viagens, que foi o que nos levou a esta troca
de ideias, tenho feito muito poucas, o que tento superar vendo filmes
ou com leitura sobre o que gostava de conhecer pessoalmente: é uma
forma de satisfazer a minha curiosidade.
Realmente,
conseguirmos até ao fim ter a capacidade para nos governarmos e
orientarmos a nossa vida é um bem que todos desejamos…E eu só
quero ter a lucidez suficiente, nestes anos que me restam, para
seguir o trilho que me impus, o da honestidade. Gostava de continuar
a saber e a conseguir governar-me e governar a minha casa, porque
deve ser muito angustiante vermos ruir aquilo que construímos ou
ajudamos a construir, e deve ser muito triste sentirmo-nos impotentes
para o evitar…
Em
adolescente li um livro que me marcou, Poliana, de Eleanor Porter.
Poliana, a
personagem principal, jogava sempre o jogo do contente: -
O Senhor João partiu uma perna. Coitado! Mas teria sido pior se
tivesse partido as duas.
Claro
que na vida real este jogo não pode ser jogado desta forma. Na minha
vida também tenho tido desilusões, grandes dissabores e tantos
desgostos, e quem não os tem? No princípio vou-me abaixo, mas o meu
lado positivo de ver a vida leva-me a ultrapassar essas situações
e, tal como Fénix, renasço das cinzas,
procuro jogar o
jogo do contente.
Sou
normalmente bem-disposta, por isso a minha forma irónica às vezes
de escrever. Não tive a educação rígida do meu pai Matias, mas
tive a educação sábia e tolerante do meu padrinho, também Matias,
e sinto-me muito bem com a educação que tive. Mas não vivo de
ilusões e, como não sou crente, não recorro a divindades para me
socorrer , nem tenho
nenhum deus a quem agradecer.
Tento reagir sozinha, apoiada na família e nos amigos, a quem, a
esses sim, muito tenho para agradecer. Para mim só existe o que é
real… e na realidade a vida não está fácil…para nós, para os
nossos filhos e muito menos para os nossos netos, mas vamos vivendo
um dia de cada vez…
Revolta-me
e muito a situação do nosso país e as injustiças sociais são uma
praga que devemos combater sem descanso. Como já escrevi,
“infelizmente, o que nos roubam nas reformas faz-nos falta para
sobrevivermos”. Mas nada disto deve ser suficiente para nos abater
ao ponto de dizermos que “a vida nos assusta e nem temos vontade de
brincar”. Mesmo que seja difícil, devemos fazer o favor de tentar
ser felizes…
Maria Alexandrina
A Maria Alexandrina é uma senhora que admiro muito.Aos textos que ao longo deste tempo tem-me entretido bastante tem muito valor! Só não a sigo porque para mim, a espiritualidade faz parte de mim! E não estaria cá (não se perderia muito) se não esperasse algo de bom! Deus está acima de todos de tudo, protege-nos,mesmo a quem não pede proteção.
ResponderEliminarUm abraço e que Deus a acompanhe!
A amiga Luisa
Amiga Alexandrina
ResponderEliminarUm texto muito bem escrito por quem, apesar das adversidades e contrariedades da vida, não se deixa derrubar nem desfalece perante as dificuldades. "Arregaça as mangas" e vai à luta.
Parabéns minha amiga pela sua coragem, força e boa disposição que sempre consegue transmitir aos outros, até mesmo às vezes quando o coração está triste.
Que o destino permita que essa sua força e vontade de viver se mantenha e que, tal como é seu desejo, a lucidez nunca a abandone para poder "governar o seu barquinho com honestida".
Beijinhos da amiga
Lourdes.
Amiga Luisa apesar de pensarmos de maneira diferente,fico sempre muito satisfeita pelos seus comentários sábios e sinceros. Eu sei que o seu deus a tem ajudado a superar muitas dificuldades e respeito a sua religiosidade. E minha amiga, se essa fé lhe dá mais tranquilidade continue e com ela seja feliz. Um beijinho
ResponderEliminarMaria Alexandrina
Amiga Maria Alexandrina
ResponderEliminarUm jardim é lindo também pela variedade de flores...porque não ser uma delas?
Fico feliz...e fique feliz também!
Beijinhos
Luisa
ResponderEliminarNão conhecia a Poliana, nunca tinha ouvido ou lido nada sobre Eleanor Porter: a minha adolescência não me levou a estes caminhos, “sorte” a da Alexandrina … Pesquisei um pouco, fiquei a saber que houve muitos “Polianas” depois do primeiro, houve um filme já em 1960, mas gosto acima de tudo de uma frase do primeiro livro que encontrei citada: “Em tudo há sempre alguma coisa capaz de deixar a gente alegre; a questão é descobri-la.”
Também “para mim só existe o que é real … e na realidade a vida não está fácil …”. Também para mim só faz sentido tentar descobrir entre nós, hoje, amanhã e depois, aquilo que, em cada coisa da vida, pode “deixar a gente alegre”. Não está fácil, está mesmo difícil, mas “fugir” … não é solução.
Auzendo
Boa tarde cara Maria Alexandrina!
ResponderEliminarLi e gostei bastante do que escreveu.
Felizmente que a Senhora teve uma educação tolerante e, embora não tivesse alargado os seus estudos, alargou os seus conhecimentos e ainda bem, porque na "nossa época" não era fácil e a Senhora teve o privilégio de ter tido uma boa educação e ser também uma pessoa muito interessada e, tal como o seu irmão Dimas também reage de forma positiva às adversidades da vida, o que é um dos maiores talentos que alguém pode ter.
Eu também tenho ultrapassado os problemas que me têm aparecido e que na altura me preocupam, mas penso sempre que, infelizmente, há quem tenha maiores...
Gosto muito de ler e de escrever, no entanto, reconheço que o meu temperamento não é alegre, possivelmente é de família, pois meu pai também não o era. Viajar não me dá muito prazer, pois virtualmente tudo me parece mais bonito, no entanto falta o convívio e o diálogo, que nos engrandece e enriquecesse interiormente.
Se eu não fosse uma pessoa tão obediente teria brincado, mesmo às escondidas de meus pais, mas nunca fui capaz de fazê-lo. Tinha medo de apanhar tareia e isso não me deixava qualquer tranquilidade para "fugir" às regras.
Li o que escreveu sobre Irene Lisboa "a minha Irene" como lhe chamou. Também ela, embora muito culta, era uma pessoa triste, basta ler "Voltar atrás para quê"; "Esta cidade"; "Solidão".
Tinha muitas razões para sê-lo e não conseguiu ultrapassá-las. É a vida..."nós não somos como queriamos ser, mas se nos aceitarmos é meio caminho andando.
Uma coisa é certa a honestidade, a humildade e a lealdade são as armas da minha vida.
Que bom a Senhora ter nos seus genes essa força e essa alegria. Parabenizo-a a si e ao seu irmão por isso mesmo. Feliz daquele que consegue rir, sorrir e fazer rir e sorrir.
Desejo-lhe muitas felicidades para toda a sua família (filhas, marido e irmão Dimas).
Continue...continue sempre, pois é de pessoas como a Senhora e como o seu irmão que todos nós precisamos.
Desejo-lhe um bom resto de dia e de semana e o meu obrigado pelo seu texto.
Muitos parabéns!!!
Joaquim Almeida
Meu caro Joaquim de Almeida:
EliminarPercebo que o senhor lê tudo o que escrevo, porque só assim pode saber tanto da minha vida, mesmo sem me conhecer fisicamente, como já afirmou.
Parece-me um pouco triste e magoado, mas muito sensível e delicado, é bom para o meu ego ler os seus comentários, embora os ache exagerados, eu tenho consciência do que valho, no entanto é sempre um prazer lê-los.
Tenho uma grande admiração por Irene Lisboa,por ter sido uma pessoa bastante sofrida, como se pode ler no seu livro "Voltar atrás para quê", e como passou parte da sua infância e juventude neste concelho,acho-a "um pouco minha". Apesar de não ter tido uma infância feliz, de ter sido retirada à mãe, o pai não a abandonou... faltou-lhe com toda a certeza amor.
Tudo de bom para si e para os seus e um bom fim de semana.
Obrigada
Maria Alexandrinas
Boa tarde cara Maria Alexandrina!
ResponderEliminarMuito obrigado pelo seu comentário. A Senhora está certa… eu sou uma pessoa bastante sensível e também uma pessoa triste, mas o mundo é composto de pessoas diferentes…
De facto não a conheço pessoalmente, mas isso é o que menos importa, pois os contos (vamos chamar-lhe contos) que a Senhora escreve são típicos de uma época… e merecem ser publicados, pois daqui a um tempo já serão poucas as pessoas que se lembram destes factos e, quanto a mim, é legado para as novas gerações.
Quando gosto do que leio não me canso de dizê-lo e não estou a exagerar, acredite. Digo o que sinto. Gosto bastante da maneira como a Senhora escreve e como descreve.
O que me levou a encontrar este blogue foi o facto de ter nascido perto de Sobral da Adiça e, porque procuro sempre saber mais… eis que encontro SobralSénior. Acabei por “espreitar” e, como gostei, tenho acompanhado.
Quanto a Irene Lisboa considero-a um pouco de todos nós.
Foi uma grande pedagoga, escritora, professora (chegou a Inspetora). Faleceu a um mês de perfazer 66 anos.
Deixou-nos uma vasta obra literária, tendo recorrido a pseudónimos para que fosse possível publicar alguns dos seus trabalhos.
Deixou-nos ainda muitos trabalhos científicos na área da Pedagogia, no entanto e, por circunstâncias da vida, era uma pessoa triste e solitária, mas não ficou esquecida….Existe o Instituto Irene Lisboa, várias ruas com o seu nome, um museu, etc., mas é quase sempre assim o mérito das pessoas raramente é reconhecido em vida e com Irene Lisboa não foi diferente.
Um excelente fim de semana para a Senhora e para a sua família.
Aceite os meus cumprimentos.
Joaquim Almeida
Boa tarde Senhora Dona Maria Alexandrina!
ResponderEliminarSou filha do Senhor Joaquim Almeida e, embora o "SobralSénior" esteja encerrado para férias eu estou a entrar em contacto com a Senhora para lhe dar uma notícia.
Devo dizer-lhe que não é agradável, mas tinha de fazê-lo, pois meu pai falava imenso das suas publicações...
A senhora passou a ter menos um leitor...outros virão certamente...
Meu pai faleceu, com um enfarte, no dia 13 de Agosto.
Desejo que a Senhora continue sempre a escrever e que tenha sempre muita saúde e muita força!
Aceite os meus cumprimentos.
Maria José Almeida