MESTRE JOÃO MORAIS
João
Morais, também conhecido por “João Albardeiro”, foi na primeira
metade do Século XX, artífice famoso, pela qualidade do trabalho
que desenvolvia na sua oficina em Sobral de Monte Agraço.
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Albarda ( Coudelaria Nacional Alter do Chão) |
Mestre
na execução de toda a variedade de arreios para solípedes, desde o
mais belo selim decorado com botões e fivelas douradas, com que os
proprietários abastados selavam os seus elegantes ginetes, até à
mais modesta albarda, indispensável para equipar os sóbrios
jumentos, tão úteis às famílias rurais de então.
Homem
de profundas convicções republicanas, relativamente culto,
atendendo à sua origem e à época em que viveu, deixou vários
filhos que se distinguiram como Sobralenses respeitados, alguns
ligados às artes, designadamente ao teatro.
Não
tem, actualmente, no Sobral, pelo menos que tenhamos conhecimento,
qualquer descendente.
Certo
dia, em domingo de mercado, o mercado mensal de Sobral realizava-se
então ao domingo, apareceu na loja/oficina de Mestre Morais, um
cliente que pelo traje indiciava ser bastante abastado, vindo de
longe, recomendado pela fama de artista que gozava o nosso Mestre,
para lhe encomendar um arreio especial para a sua nova montada, um
puro sangue de “Raça Lusitana”, como dizia.
Sem
olhar ao custo do arreio, pretendia uma peça feita à medida,
decorada com diversos atavios, talvez com duvidoso gosto de novo
riquismo, onde não faltavam muitas fivelas douradas e correias
entrançadas.
Mestre
Morais ouviu atentamente, em qualquer circunstancia o seu brio
profissional estava sempre presente, e se o cliente se prestava a
pagar devidamente o trabalho, não havia razão para que não fossem
atendidas todas as suas exigências.
Acautelados
os pormenores, ajustaram o preço, certamente elevado, e combinaram
que o trabalho estaria pronto um mês depois, isto é, no dia do
próximo mercado mensal.
Como
prometido, no mês seguinte, estava pronto o arreio em que o Mestre
tinha aplicado todo o seu saber, uma autêntica obra de arte, que
mereceu do “freguês” os mais rasgados elogios. Para além de
pagar o preço combinado deixou, ainda, uma “lembrança” face à
qualidade do trabalho executado.
Porém,
um mês depois, voltava à loja o “abastado” e exigente cliente,
dizendo que afinal, apesar de muito bonito, o arreio não se ajustava
bem ao cavalo, que as medidas não tinham sido bem tomadas e que não
restava a Mestre Morais outra alternativa, que não fosse proceder às
necessárias correcções.
Mestre
Morais passou a mão pela cara, afagando as longas barbas que sempre
usou desde a sua juventude, olhou o cliente e disse-lhe:
-
Sim Senhor, deixe aí o arreio, vamos ver o que poderei fazer.
Pensando
que o homem só voltasse no mês seguinte, encostou o arreio a um
canto da oficina e jamais se lembrou do assunto.
No
entanto, passado poucos dias o cliente voltou ao Sobral, desejoso de
exibir o arreio que tanto dinheiro lhe custara e de que tanto se
orgulhava.
Mestre
Morais, que nem sequer tinha voltado a olhar o arreio, não tendo
pois, procedido a qualquer correcção, entregou-o ao “nosso
cavaleiro”, afirmando com algum embaraço:
- Se
por acaso ainda não estiver a seu gosto, volte de novo que tentarei
dar-lhe mais um jeito.
Dias
depois, voltava o cliente a entrar na sua loja, e quando Mestre
Morais esperava por uma nova reclamação, o cliente exclamou:
Assim
está bem Senhor Morais, desta vez é que acertou, o arreio ajusta-se
agora perfeitamente ao cavalo, não me tenho cansado de enaltecer o
seu trabalho, sobretudo a forma como conseguiu fazer a última
correcção.
Como
recompensa do seu excelente trabalho deixo-lhe aqui mais dois mil
réis.
Eduardo João
A propósito
“Os Albardeiros
Baixo o título de “Albardeiros, vestindo animais” presentase un vídeo realizado pola Consellería de Cultura e Deporte, Baixo a Dirección Xeral de Cultural da Xunta de Galicia, para dar a coñecer un dos oficios da nosa vila.” Um, não: afinal os vídeos são dois. Pode vê-los em http://www.concellodemaceda.org/ga/web/index.php?dep=3&mod=inf&idc=89 .
Aconselho que comece pelo último. Respeitam ao Concelho de Maceda, uma vila da Galiza. Provavelmente nunca viremos a ter nada semelhante em português, relativo ao Sobral…
Auzendo
A propósito
“Os Albardeiros
Baixo o título de “Albardeiros, vestindo animais” presentase un vídeo realizado pola Consellería de Cultura e Deporte, Baixo a Dirección Xeral de Cultural da Xunta de Galicia, para dar a coñecer un dos oficios da nosa vila.” Um, não: afinal os vídeos são dois. Pode vê-los em http://www.concellodemaceda.
Aconselho que comece pelo último. Respeitam ao Concelho de Maceda, uma vila da Galiza. Provavelmente nunca viremos a ter nada semelhante em português, relativo ao Sobral…
Auzendo
Amigo Eduardo João mais uma história do nosso povo, e como gostei de ler!... Já tenho assistido a casos identicos, mas como outra espécie de vestuário.
ResponderEliminarO Sr. João Morais um pessoa muito respeitada na terra, assim como a sua família, mas que a mim em criança me intimidava, não que por alguma vez tivesse feito um gesto sequer para eu me sentir intimidada, mas a sua figura alta encoberta pelo seu capote à alenjana, as suas longas barbas brancas, eram o suficiente para que eu quando passava à sua porta desse uma corrida. Acho que nunca lhe ouvi a voz e passei à sua porta muitos anos.
Era uma figura diferente e a minha ingenuidade da idade não me deixava perceber isso...
Espero aqui lê-lo mais vezes, porque o blogue Gente Gira precisa de pessoas como o amigo para nos recordar e até alguns aprenderem o que foram as vivencias da nossa gente...É pena que alguns não compreendam isso, que estão a prender e tomar conhecimentos que podem ser úteis para a sua vida.
Não pode haver futuro, se não conhecermos o passado...Vamos viver o presente lendo as suas histórias de antigamente. Continue...
Maria Alexandrina
Caro Sr. Eduardo João
ResponderEliminarFoi com agrado que li mais este seu texto, testemunhando ocorrências do passado que a pouco e pouco vão caindo no esquecimento.
Nada percebo de cavalos nem da arte ligada ao hipismo, mas aprecio quem generosamente me dá a conhecer coisas que desconheço. Perdoe-me a minha ignorância neste assunto, mas confesso que apesar de nada perceber, o cavalo é um animal muito nobre que sempre me cativou, não só pela sua beleza e elegância como também pela sua destreza.
Quero deixar também uma palavra de agradecimento ao Professor Afonso pelo modo esforçado com que se aplica para cada vez mais ir melhorando a qualidade deste blogue, dando-nos inclusivamente a possibilidade de acesso directo ao dicionário de modo a podermos esclarecer eventuais dúvidas.
O meu muito obrigada a quem sabe e quer generosamente partilhar com os outros, os seus valiosos conhecimentos.
Bem-hajam.
Lourdes Henriques.
Olá meu caro Sr. Eduardo João.
ResponderEliminarParabéns, pelas três histórias que o Sr. Publicou, aqui neste blogue. São crónicas da sua infância, que estão muito bem contadas e muito engraçadas.
Até breve
Mariana
Finalmente um conto que não é sobre bêbados.
ResponderEliminarCaiu na real.
Antónia Henriques Silva
Olhou-se ao espelho e viu-se e viu a família. Foi o que foi.
EliminarVicente Lopes
O “A propósito” acrescentado logo por baixo do texto principal é uma brilhante solução (mais uma) encontrada pelo nosso Gestor, porque num “comentário” não é, afinal, possível fazer a “ligação” para o link da Galiza que lá se inscreve. Ora aquele textinho era para ser parte deste comentário, que agora refaço:
ResponderEliminarA máxima era … é, e continuará a ser … “albarda-se o burro à vontade do dono”. No caso do nosso albardeiro, o Dr. Eduardo João mostra-nos que a história se escreveu ao contrário, afinal com satisfação e proveito a dobrar…
Já neste blogue se falou, antes, de albardeiros e de ferradores do Sobral. Mas, verdadeiramente, só os mais velhos podem fazer uma ideia do que eram mesmo, na prática, essas profissões que, durante tantos séculos, tiveram uma importância decisiva na vida das comunidades, das Nações, no mundo inteiro. A história do Dr. Eduardo João levou-me a pesquisar para ver se encontraria imagens, outras imagens. O que encontrei levou-me à Galiza, como disse e se pode ver no "A propósito"
Ouvir galego não será muito aliciante para nós. Mas sempre é mais agradável do que ler certos comentários de pessoas “embriagadas”, mesmo se abstémias…ao álcool, que não sabem das “aves que gritam/ em bebedeiras de azul” que o poema celebra e canta. Não sabem, nem saberão nunca, que o sonho comanda a vida.
Auzendo
A minha máxima é "preso por ter cão, preso por não ter", se falou de bêbados é porque falou, se não falou é repreendido à mesma...
ResponderEliminarMeus senhores não era muito mais útil, usarem a vossa capacidade de escrever, fazendo uns bons textos para o blog?
O sonho comanda a vida e vida deve ser comandada pelo bom senso.
Maria Alexandrina
Queres que te ofereça uma escova e uma caixa de pomada para continuares a engraxar?
EliminarO sonho comanda a vida e o teu sonho está mesmo visto é engraxares,engraxares, dar mesmo muita graxa.
Continua o teu sonho, pois o sonho comando a vida.
Desejo-te a continuação de muita saúde e vê lá mas é se contas as histórias de outras pessoas que também passaram pelo Sobral. E aqui vai uma dica: (histórias dos alfaiates de Sobral: do Camelo, do Amaral,do Albano,do Reto). Isso sim acharia também muito bom e, desde já o meu obrigado.
Também te desejo muita força, pois sempre foste uma pessoa inteligente e aplicada e, se não fosses assim como é que as pessoas se entretinham?
Ana Costa
Minha senhora tem toda a razão em dizer que a vida deve ser comandada pelo bom senso, mas eu digo-lhe mais também deve ser comandada pela aceitação da opinião das outras pessoas. Vivemos em Portugal que é um país livre. Que eu saiba Sobral de Monte Agraço não é uma ilha e, dai as pessoas que, embora não nasceram nesse concelho, mas beberam do muito que ai se ensinava, da forma como sempre foram aceites, e, esse se calhar é o problema terão o dever, o direito e a obrigação de aceitar a opinião que seja divergente da sua. Parece-me que, pelo que tenho lido é difícil de engolir a opinião que não seja concordante com as de alguns comentadores. Tenho pena. Pena porque a nível de Internet que corre Mundo dá-se a entender que não se pode ter opinião própria. É uma pena, é uma pena
EliminarAmérico Dias
Boa noite
ResponderEliminarFico triste, quando vou ler os comentários, do blogue gente gira ver que há gente, que entra no blogue de PROPÓSITO para agredirem as pessoas que fazem os textos.
O blogue foi criado no intuito, de quem gostar de escrever poder contar histórias de vida, biografias, poesia. Foi esta a finalidade do blog. Os insultos não ficam bem
Lamentável que se sirvam deste espaço onde as pessoas dão o seu melhor para bem de todos. Criticar dar a sua opinião é uma coisa, isto é gente invejosa e mal formada e que não é capaz de fazer nada.Mas as ações ficam com quem as pratica.
ResponderEliminarAdelaide
Já algum tempo que o professor Afonso criou este blog. Penso que intuito dele seria as pessoas poderem partilhar, as suas experiencia com toda a comunidade, onde todos pudessem partilhar opiniões e fazerem os seus comentários. Mas comentários abusivos, sempre contra a mesma pessoa, não têm graça nenhuma.
ResponderEliminar“Há um sábio ditado que diz não importa o latido dos cães, não importa o barulho que façam a caravana segue o seu caminho, apesar deles. Apesar de os cães babarem raivosamente na tentativa de impedir a passagem dos outros, a caravana passa.”
MRL.
E deixei-me ficar a ver até onde chegava...
ResponderEliminarE não me venham falar de liberdades de expressão!
Já uma vez afirmei e reafirmo. Este não é o espaço, aquela esquina mal iluminada onde se aproveita para emboscar quem passa.
Criei este espaço para além disso, para além da mesquinhez de ideias e comportamentos, empenhado na valorização da PESSOA. Parece que não se percebeu isso!
Quem quiser acompanhar este projecto "ingénuo", como já apelidaram, quem quiser comentar conteúdos será bem vindo.
De outra forma têm as praças, as esplanadas, os adros onde corajosamente e a descoberto podem esgrimir as suas valentias.
Aqui, NÃO.
Lamento que ainda não tenham entendido!
PS. Já agora informo que sou muito teimoso e que dificilmente desisto quando ACREDITO no que me move!
Afonso Faria
Não sou pessoa de ligar a blogues. O facebook,de uma certa forma, ultrapassou-os, mas este caiu-me do céu e acabei por ler alguns dos artigos.Tenho tempo e fi-lo. Alguns blogues dão-nos a conhecer muitas coisas e é fruto de muito esforço, mas neste os comentadores comentam, mas depois quem responde aos comentários não são os próprios, mas isso é lá com eles. Deveriam, em minha opinião fazê-lo também, porque serem terceiros até parecem procuradores dos mesmos.
EliminarValorizo quem aplica o seu tempo a pesquisar a escrever, a transcrever temas que considera úteis e interessantes. No entanto não entendo porque é que essas mesma pessoas se prendem a comentar comentários. Parece-me que estão a fomentar o "diz que diz". Também não li em lado algum que alguém queria que o Afonso Faria desistisse fosse daquilo que fosse, razão pela qual não entendo o seu "P.S.". Se está escrito nalgum lado isso eu não vi. Até parece que sente "perseguição". Considera-se assim tão importante? Li que não é dessa terra e penso que talvez nem conheça bem o meio. O que eu vejo é que certas opiniões não são bem aceites e isso sim é que é grave.
A calma e a serenidade e o aceitar de outras opiniões ajudam e fortalecem a vida, porque já chega de amontoar pessoas nas praças.
Lembra-se da Praça do Campo Pequeno? Eu não sou muito velho e lembro-me muito, muito bem.
Façam o favor de ser felizes lá dizia o Raul Solnado. Deixem-se de "diz que diz". Deixem falar quem falar e continuem a colocar artigos no blogue.
Desistir é próprio dos fracos. Um soldado não é valorizado por desistir da guerra, mas sim por continuar a luta e lutar faz parte da vida.
Sejam felizes. Comecei hoje a visita pelo blogue e termino também hoje.
Que o bom senso seja a arma do soldado seja ele quem for.
J.A.Firmino
Conclusão:
ResponderEliminar"Nem todas as verdades são para todos os ouvidos."
(Umberto Eco)
Ana Costa
E os cegos verdadeiramente cegos são aqueles que não querem ver.
ResponderEliminarAuzendo