Hoje
fiz uma visita ao meu sótão, onde guardo as recordações,
lembranças de histórias do passado, e o que vi fez-me retroceder no
tempo e lembrar-me de quando os nossos jantares eram
demorados…Sentada à mesa, eu ia ouvindo contar histórias de
parentes e amigos, que fizeram história na vila. Nunca as ouvi como
um insulto, mas pela graça como foram ditas. Não havia televisão e
eu, encantada e extasiada, ia absorvendo cada palavra e cada gesto,
como se estivesse a ver um filme… e talvez por isso nunca as
esqueci. São pequenos contos que a pouco e pouco, conforme me for
recordando, vos irei transmitindo. Tendo em conta o espaço e o tempo
em que eu os escutava, não terão agora o
mesmo
impacto que tiveram em mim…mas vou arriscar.

Um
dia logo cedo um vizinho viu-o todo arranjadinho, admirou-se e
resolveu perguntar-lhe o que tinha acontecido. E ele com ar admirado
pela pergunta, respondeu prontamente:
-Eu
que aqui vou, alguém morreu!
Assim
viveu um homem, cuja vida foi só de trabalho e cuja única distração
era ir a um funeral…Parece que para ele o convívio com os amigos
não era importante, o importante era acompanhá-los à sua última
morada.
No
Sobral, na época de 50, poucas pessoas tinham automóvel e as
pessoas mais sedentas de conhecimentos inscreviam-se em excursões
organizadas e iam pagando durante uns meses, em suaves prestações
semanais, para que quando chegasse o dia da partida o bilhete
estivesse pago. Os autocarros eram pouco confortáveis e as estradas
cheias de buracos. Quando fazíamos uma excursão de três dias,
chegávamos a casa com os músculos todos doridos.
Na
véspera da partida guisavam-se os coelhos, coravam-se as galinhas,
fritavam-se uns pastéis, coziam-se uns ovos e fazia-se um bolo, que
eram saboreados pelo caminho e à sombra de algumas árvores. As
refeições eram partilhadas… éramos todos vizinhos e amigos.